► William POV Vitória! Embora eu não pudesse falar nem uma palavra, e sentisse meu pulmão mais enrugado do que uva passa, eu tinha saído daquele avião sem matar uma viva alma, sem derramar uma gota de sangue! Agora, que eu já estava a alguns metros daquele formigueiro humano, eu podia gritar a plenos pulmões, que não existe coisa que eu mais adore do que sangue!
É, a auto-afirmação foi de bastante ajuda.
“Não gosto de sangue humano”,
“me frustrei tentando parar”,
“sou um viciado”,
“só mais um dia” e todas essas baboseiras. Se não deu certo, é porque eu não queria realmente parar de beber sangue, parar de me sentir vivo e amenizar a queimação na garganta. Agora eu podia lembrar a mim mesmo e ao meu inconsciente fraco o suficiente para perder uma guerra contra meu consciente que eu ADORAVA sangue humano. O único problema é que eu não sabia pilotar um avião, e se eu cravasse meus dentes na jugular de um ser vivo naquele objeto voador, eu não ia conseguir parar até ter extinguido com todos os existentes.
Só ousei respirar quando já estava em um beco escuro de Brasov. Meus sentidos pululavam por todos os lugares que eu podia enxergar e os humanos não, procurando uma veia pulsante, um coração batendo, o sangue cheirando. Olhei para todos os cantos daquele beco escuro, mas parece que era hora das formigas voltarem para casa. Eu parecia ser o último ser vivo de Brasov, e poderia apostar que algum vampiro faminto tinha acabado de passar por aqui, se eu não tivesse visto as mechas loiras voarem pra a esquerda de acordo com o vento, em uma rua muito pouco povoada da cidade.
Eu pude sentir o cheiro do perfume que ela tinha borrifado na roupa um pouco antes de sair de casa, e distinguí-lo do seu cheiro natural. Não tinha sido o mais apetitoso que eu já encontrara durante meus dois anos de caça, mas com a sede que eu sentia, era delicioso o suficiente para ser insuportável. Caminhei a passos rápidos até o muro revelar, embora relutante, o pescoço da garota. Eu podia acompanhar o movimento do sangue na sua jugular, que pulsava a cada batimento cardíaco. Lambi os beiços antes de dar os poucos passos que ainda me distanciavam dela.
Toquei seu braço e sorri.
- Salut. – Ela falou com um sorriso no rosto, respondendo o meu. Ela tinha olhos castanhos, cabelo amarelo encaracolado, nariz reto e do tamanho mais perfeito que eu já tinha visto na vida. Levei uma das mãos para a nuca e cocei os cabelos, fingindo estar sem jeito, enquanto ainda sentia o aroma vindo de dentro da sua boca, degustando cada letra com o meu olfato. Eu podia sentir o gosto só pelo cheiro.
- Desculpe, - eu aproximei meu rosto do dela, ainda com os dentes à mostra – eu sei falar no máximo, inglês.
- Isso não será problema. – A garota mordeu o lábio inferior, e quando o soltou, eu pude ver a área que ficara mais vermelha pela compressão do sangue. Minha garganta reclamou. Ela tinha um estranho sotaque australiano, e eu tenho que lembrar que adoro aquele sotaque. Da audição para a visão, o sotaque australiano era como o Papai Noel vestindo roupas azuis. Deliciosamente diferente. Ela levantou seu braço. – Giovanna. – Eu segurei-a com delicadeza e beijei a extremidade. Tive que conter o instinto de atacar sua mão, porque seria bizarro. Na minha humilde opinião, se você tem que fazer alguma coisa, faça-a com categoria.
- Então, Giovanna. – Eu dei mais um passo à frente, fixando meus olhos nos dela e deslizando meu braço pelo braço dela, até sua cintura, onde a segurei. – O que faz numa rua despovoada a essa hora da noite? – Ela entendeu a minha indireta, porque eu pude sentir seu coração batendo mais rápido.
Com a maior velocidade que eu consegui impor, meus braços deslizaram até os dela e os prenderam na parede. Eu ri com gosto.
- Você é a azarada da noite. – Falei, bem próximo ao rosto dela. Eu pude perceber sua embriaguez ao sentir o cheiro do meu hálito. – Nunca cruze com um vampiro, isso é que são palavras sábias.
E cravei meus dentes na sua jugular.
Só voltei a mim quando eu sugava em seu pescoço, e nada mais de sangue saía. Ela já estava oca, e minha garganta ainda reclamava. Droga! Eu não devia ter inventado a história do avião. Brincar com a minha sede agora ia fazer com que eu matasse mais umas duas ou três pessoas. Não que isso fosse ruim para mim, eu adorava fazer isso. Afinal, um dos prazeres da vida é se alimentar. Mas se eu matasse quatro pessoas em um mesmo dia, chamaria a atenção dos humanos e consequentemente dos Volturi. Embora não soubesse quem havia me transformado, nestes dois anos eu já tinha estado na presença de outros vampiros, e estes me informaram muito bem quem eram os vampiros que ditavam as regras nesse mundo.
Uma pena que todos os vampiros que eu já conheci estejam mortos.
Mas eu tinha aquela última pista, e sua concretização estava há poucos quilômetros de onde eu estava agora. O Castelo de Bran, na cidade de Bran – oh, isso é meio óbvio. -, vizinha de Brasov. Correr daqui até lá não demoraria mais do que vinte minutos. Mas eu ainda tinha algo a fazer.
Corri contra um hospital que ainda estava aberto, diretamente para uma área especial. A área onde eles guardavam o sangue doado, e puxei para os bolsos quatro bolsas de sangue AB positivo.
Com o meu lanche para viagem já nos bolsos, pude seguir caminho para Bran, sem ao menos pensar no que podia me aguardar. Pensar não é bom, o melhor é ver o que realmente acontece quando você chega lá.
E lá vamos nós.
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