► Will POVAndar pelas florestas e ruas das cidades com a indispensável companhia de um par de óculos escuros não era tão incômodo quanto eu pensei. Desde que fora transformado, não sabia fazer nada além de me alimentar e me esconder, eram as duas únicas tarefas que eu cumpria enquanto ser. Nem em vida eu tinha viajado tanto assim, mas desde que chegara ao aeroporto de Porto Alegre, no Brasil, em direção a Romênia, o sentimento humano da ansiedade, sem falar nas milhares de dúvidas que pululavam na minha mente, ocupavam todo o espaço disponível, enquanto a alegria por estar fazendo minha primeira viagem estava atirada em um canto qualquer da minha mente. E era maravilhoso sentir o vento passando pelo rosto e por todo o meu corpo, como se eu estivesse no meio de um tornado. Depois de beber sangue, agora eu tinha descoberto a minha segunda vantagem preferida em ser vampiro: correr como ninguém. Era tranqüilizante, e me ajudava a pensar. Fiquei pensando em quantos turistas morreriam de inveja ao saber que eu poderia visitar uma cidade inteira em menos de um dia, enquanto eles teriam de pagar semanas de hotéis, dormindo em camas duras.
Não demorou muito tempo para eu me encher o saco da Romênia. Fala sério, é um país minúsculo, se comparado a outros que eu posso visitar. Ultrapassei as fronteiras do país e me meti num menor ainda! Quando dei por mim, já estava na Bulgária.
Em menos de quinze minutos na cidade, falando o meu bom e velho inglês, descobri que estava em um distrito chamado Ruse. Várias pessoas desfilavam pelas ruas da cidade, todos quase derretendo. Aquele calor me era comum, era um tanto quanto parecido com o tempo maluco da minha cidade natal. Me senti em casa, e percorri da mais pequena e estreita ruela à mais longa e larga rua da cidade. Haviam florestas por todas as direções que delimitavam a cidade, então eu teria abrigo e lugar para me alimentar. Procurei qualquer humano sozinho no limite da floresta leste, cheguei sorrateiro por trás dele e quebrei seu pescoço. Segundos depois, eu já estava escondido por entre as árvores.
Fazia algum tempo que eu não me alimentava, e minha garganta agradeceu imensamente pelo quitute. Sangue búlgaro era definitivamente melhor do que o romeno, pensei enquanto sugava cada gota de sangue do homem morto pela sua jugular.
Quando eu estava prestes a procurar algum arbusto para esconder o corpo do homem, uma flecha foi jogada na árvore ao meu lado.
- Eu sei o que você é! – Gritou uma voz vinda de longe, embora eu pudesse perceber que era vinda da trilha no meio da floresta. – Saia da sua toca, Vampiro! – Meus ouvidos tremeram ao ouvir a palavra. Em dois anos de existência como vampiro, ninguém nunca tinha descoberto nada. Comecei a tentar circundar o dono de tal voz, mas outra flecha quase me atingiu no ombro. Não que eu não fosse quebrá-la com meu corpo de mármore, mas isso mostraria vulnerabilidade.
- Quem é você? – Perguntei, firme. Pude notar um par de olhos analisando cada movimento que eu fazia. Não eram olhos comuns. Talvez, se um humano normal olhasse para aqueles olhos, não veria nada de diferente. Mas um vampiro, ah. Um vampiro notaria aqueles pequenos pontos coloridos entre o castanho forte que marcava sua íris.
Definitivamente, aquele ser não era humano.
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