► Catherine POVEu nem mesmo tive tempo de responder ao cumprimento. Enquanto eu ainda o fitava, meio perplexa, ele saltou, com toda a agilidade que é peculiar aos da nossa espécie, e saiu pela mesma janela pela qual eu havia entrado. Decididamente, o velho museu era bastante movimentado na parte da noite. Me perguntei se não devia ir atrás dele, mas a curiosidade sobre o que me aguardava no subsolo foi maior. Seguindo a indicação do vampiro, afastei as poltronas e levantei o tapete. Ali estava a passagem que me levaria às tão desejadas respostas. Então por que raios eu me sentia tão tentada a voltar pelo mesmo lugar por onde viera, seguindo o exemplo do vampiro que saíra pela janela? Sacudi a cabeça, como se aquilo fosse afastar os pensamentos e removi a parte do piso que levava a... bem, aonde quer que aquele buraco escuro fosse me levar.
- Ok, Cathe. – murmurei para mim mesma – Vamos ver aonde isso vai dar.
Espiei para dentro do buraco. Não vi absolutamente nada, a escuridão era total. Bem, as chances de que eu me ferisse na queda eram... bem, nenhuma, então simplesmente pulei.
A queda foi longa, sei lá quantos metros aquele troço devia ter de profundidade, mas finalmente caí, de pé, e com um leve baque, no chão de pedra de um corredor longo e mal iluminado. Lá embaixo, o cheiro adocicado, e que, depois do meu encontro com o jovem vampiro no museu, eu sabia que pertencia aos da minha espécie, era ainda mais intenso, e foi através dele que eu fui me guiando, seguindo pelo corredor, em busca da origem, do cheiro, ou melhor, dos cheiros. Aquele lugar tinha um cheiro diferente, especial... bem, talvez fosse só umidade e mofo, típico de lugares velhos assim, misturado ao cheiro de vampiro. Mas havia uma distinção muito sutil no aroma que eu sentia, e eu tive absoluta certeza de que havia mais de um vampiro no subsolo do castelo de Bran.
Eu não corri. Preferi andar, sempre atenta a qualquer movimento perto de mim, mas por fim minha própria vagareza me irritou e comecei a correr ao encontro das minhas respostas. Ainda assim, devo ter demorado uns vinte minutos para chegar ao que parecia ser o centro de um conjunto de galerias, uma espécie de salão que se ramificava em corredores por todos os lados. Me senti extremamente exposta ali. Meu criador, quem quer que fosse, me dissera para procurar o castelo de Bran, mas não o que eu encontraria lá. Eu não podia saber se os... – farejei o ar – dois... não – farejei novamente –, três, havia três vampiros no subsolo do castelo, com certeza, se os três vampiros que lá estavam, em algum lugar, eram amigos ou inimigos, e eu não estava muito disposta a arriscar. Gabe me disse uma vez que vampiros podem ser bastante territorialistas.
- Ora, ora, ora... mais uma visitante...
Me virei no mesmo instante para a entrada do corredor à minha esquerda; um vampiro estava parado no portal, me observando com curiosidade. Ele ergueu o rosto e farejou o ar.
- E... uma recém-nascida. – acrescentou, abrindo um sorriso faiscante. Seus olhos eram do vermelho mais vivo que eu jamais vira. Instintivamente, assumi uma posição defensiva.
- Acalme-se, vampira. – um segundo vampiro surgira, em outro corredor, logo à minha frente – Não vamos machucá-la.
Não gostei do modo com que ele me olhava, aliás, ambos. Meio sem pensar, dei um passo atrás, sem tirar meus olhos de nenhum dos dois sequer um minuto.
- Quem são vocês? – perguntei, o olhar o tempo todo correndo de um para o outro.
- Acredito que tenhamos mais direito a fazer essa pergunta do que você. – disse o primeiro vampiro, dando um passo em minha direção – Afinal, você invadiu a nossa... casa.
Eu o encarei por um instante. Pacientemente ele esperou que eu respondesse.
- Catherine. – respondi, de má vontade – Catherine Reverbel.
- Muito bem, Catherine Reverbel. – disse ele, com um sorriso enviesado – Posso chamá-la de Cathy? – eu apenas o fitei, sem dizer palavra. Ele deu de ombros – Acho que não. Somos Stefan e Vladimir. – disse, apontando para si mesmo e para o outro vampiro, que apenas acenou com a cabeça.
- E o outro? – perguntei, ainda encarando-o. Eu tinha absoluta certeza da prresença de outro vampiro ali.
- Desculpe...?
- Há mais alguém aqui. – respondi, de forma levemente petulante – Eu posso sentir o cheiro.
Os dois se entreolharam por um momento.
- Seria possível... Stefan?
- Uma rastreadora? – disse o outro, olhando de mim para Vladimir, parecendo ao mesmo tempo surpreso e satisfeito.
Acho que ao olhar para mim percebeu a expressão em meu rosto, de confusão e uma leve impaciência, pois abandonou sua pequena discussão e ambos voltaram a prestar atenção em mim.
- Perdoe nossa falta de educação. Ficamos apenas... surpresos. – disse o vampiro chamado Vladimir, com um sorriso inocente que não me convenceu – Há quanto tempo é uma de nós, Catherine Reverbel?
- Pouco. – respondi, lacônica.
- Ela quer a resposta para a pergunta que fez. – disse Stefan, com um leve sorriso ao seu companheiro, e então voltou-se para mim – É nossa hóspede, Tiphany. – disse ele – Ela está em seus aposentos.
- Agora que já teve sua curiosidade satisfeita, que tal satisfazer a minha? – disse Vladimir – O que faz uma recém nascida, sozinha, aqui, a esta hora da noite?
Boa pergunta! O que eu estava fazendo ali mesmo? Ah, sim, seguindo as instruções de um vampiro que eu nem mesmo sei quem é, e buscando respostas para perguntas que eu nem mesmo fiz. Ótimo, né?
- Eu vim encontrar alguém. – respondi – E vim buscar respostas.
- Respostas? – ecoou Stefan – Nós temos todas. Tudo o que desejar saber sobre a nossa espécie, e sobre outras que sequer supõe realmente existirem.
- Agora, encontrar alguém... – disse Vladimir, tomando a palavra – só há nós aqui. – disse ele, abrindo os braços, como que para abranger todo o lugar. Mas ele estava errado naquele ponto.
- Talvez não. – disse eu, e ambos me olharam, surpresos.
- O que quer dizer? – perguntou Vladimir. Eu voltei a cabeça para trás, para o corredor por onde viera e farejei o ar. Cheiro de vampiro.
- Talvez eu não seja a única visitante de você esta noite.
(0)