► William POVQuinze minutos depois, eu já ultrapassava a fronteira de Brasov e punha os pés pela primeira vez em Bran. O que me escondia era o campo largo da zona rural que dividia as duas cidades. Abaixei-me entre as plantas altas para que ninguém me visse lá e olhei em todas as direções. Finalmente encontrei. Envolto de árvores, e no alto, pude localizar as torres majestosas do castelo de Bran. A cidade era toda imersa dentro da floresta. O lugar ideal para um vampiro viver. Corri por entre elas, contornando as casas e os lugares onde eu sentia cheiro de humanos. O sangue da mulher de Brasov ainda retumbava no meu estômago, como se fosse mais denso que os demais que eu já tivera provado. Isso era bom. Era como se durasse mais.
A floresta era maior do que eu imaginava, mas ainda assim a venci sem problemas maiores. A cada passo, eu via o castelo se aproximando mais e mais de mim, enquanto eu já sentia o prazer de saber que todas as informações que tinham me atraído para lá me seriam ensinadas.
Parei em uma das últimas camadas de árvores que me separavam da parede branca da entrada do castelo, e olhei para todos os lados. Nenhum movimento. Não era de se impressionar, quando você estava rondando uma cidade quase inóspita, em uma época sem turistas, no meio da madrugada. Vasculhei o terreno com o meu olfato, mas ainda assim nada encontrei. Nada de humano nos últimos dois quilômetros, mas nada de vampiros também.
Voltei a andar, dessa vez com calma, imaginando o que teria acontecido com todas as minhas respostas, ou onde elas estariam. Não sabia se seria um livro, um pergaminho, ou um vídeo informativo com cenas dos Padrinhos Mágicos nunca mostrados na televisão. Ah, eu sentia saudades dos Padrinhos mágicos.
A porta da frente estava trancada. Afinal, o castelo agora era um museu. Que pessoa em sã consciência teria a capacidade de administrar um museu se não soubesse que tinha que trancar a porta da frente quando ninguém mais estivesse lá?
Contornei o castelo – e acreditem, não foi uma coisa fácil quando estamos falando de uma construção imensa e antiga -, até encontrar uma janela. É claro que as janelas não eram de abrir. Então, obviamente, eu teria que quebrar um vidro.
A janela mais próxima ficava a uns dez metros de altura. Castelos, eu pensei, enquanto recuava um pouco e tomava impulso para saltar. Com precisão, parei na pequena extremidade da janela que ficava além do vidro. Eu daria inveja à Shawn Johnson, pensei, e um sorriso se esboçou no meu rosto enquanto eu pensava em dar alguns mortais no próximo salto. Com um soco fraco, quebrei o vidro com facilidade, como se fosse rasgar papel.
É claro que o barulho ecoou no mínimo por todo o castelo, mas eu não me importei. Eu era a única coisa consciente que perambulava o local. Pulei da janela para dentro. Analisei o local.
As paredes todas eram muito brancas, como se tudo ali dentro resistisse à passagem dos séculos. Vários quadros com pessoas me encarando estavam pendurados na parede, e eu analisei cada um, até que me senti perdido entre as gerações. E todos me encaravam.
Saí daquele lugar o mais rápido possível, porque nada me mantinha lá. Pelo menos, nada de importante. Puxei uma bolsa de sangue do bolso e bebi um pouco, enquanto visitava os outros cômodos. Nada de importante, nada escrito. Nenhum livro, nenhum nada. Aquilo tinha sido uma total perda de tempo.
Resolvi visitar mais uma vez os cômodos, para ver se eu não tinha perdido nada. Desta vez, analisei profundamente cada centímetro do castelo, dessa vez também passando por cada parte do piso dele.
No salão central, enquanto eu analisava, olhando para cima, o lustre do teto, eu senti um leve rangido, e um pequeno tremor sobre meus pés. Franzi o cenho e contemplei o chão debaixo dos meus tênis. Um tapete.
Arregalei os olhos com a idéia; eles eram realmente inteligentes. Sobre o tapete, ainda havia uma mesa e duas poltronas. Tirei as poltronas do lugar, uma com cada mão, e enrolei o tapete em direção à mesa.
O piso era todo feito em moldes de piso que formavam diversos quadrados grandes de três metros quadrados. Andei novamente sobre o piso sob o lustre e ouvi o leve rangido. Fiquei sobre quatro pés, e usei minha força para puxar o piso de três metros quadrados que mostrava o centro da sala.
E ele saiu facilmente. Pelo menos para um vampiro.
O cheiro insubstituível de um vampiro entrou pelas minhas narinas. Um. Não, dois. Minha boca se abriu em um sorriso de triunfo, e eu não pude me conter por mais de segundos antes de pular pelo buraco. Era uma grande queda, algo em cerca de vinte metros, mas para um vampiro, era fácil de anular o impacto.
Quando coloquei os pés no chão, consegui enxergar à luz de tochas, um caminho de dois metros de altura. Andei por ele, olhando para todas as direções e prestando o máximo de atenção. Por ser vampiros e morarem no castelo de Bran, não queria dizer que eram bons ou amigáveis.
Continuei a correr seguindo a direção que resultava no cheiro dos dois desconhecidos. Afinal, é melhor surpreender uma onça do que ser surpreendido por ela. Corri sem descanso por alguns vinte minutos. A parte subterrânea do castelo era gigantesca, e tomava a forma de um labirinto, com algumas grandes peças entre um corredor e outro. O cheiro ficava mais forte a cada centímetro que eu percorria, e só por ele eu ainda não tinha parado e desistido daquela viagem idiota ali mesmo.
- Seja bem-vindo. – Eu ouvi a voz cautelosa de um, quando já chegava em uma nova peça, dessa vez tendo corredores nas quatro direções. Essa devia ser a sala central. Este vampiro e outro estavam parados lado a lado, em posições defensivas, mas não tão cautelosas. Eles eram mais pálidos que o normal, e seus olhos brilhavam à luz das tochas de um vermelho vivo e mais líquido que eu jamais tinha percebido em um vampiro.
- Quem é você, vampiro? – Perguntou o outro, quando eu terminei de me aproximar. – O que quer conosco?
- Me chamo William Blake. – A compreensão passou pelos olhos dos dois com um brilho diferente. – Sou vampiro há dois anos, e os outros vampiros do Brasil me disseram que vocês possuíam todas as respostas para as possíveis perguntas que eu tivesse.
“Então, sem pensar duas vezes eu vim de avião para a Romênia encontrar vocês e sanar todas as minhas dúvidas.
- Somos Vladimir e Stefan. – Falou o primeiro, os dois tinham um sorriso irônico e maligno no rosto. – E para toda a informação há um preço.
- Não pense que nós temos um livro, um manual do vampiro. Isso seria muito bizarro. – O outro falou, imagino que era Stefan, entre risos. – O que nós temos é isto aqui. – Ele apontou para a própria cabeça, estreitando os lábios em uma expressão que passava confiança.
- Temos dezenas de milhares de anos de experiência. Conhecemos todos os mais poderosos e antigos vampiros. Mas infelizmente, somos os dois últimos da nossa época que ainda vivem pra contar história. – Vladimir deu de ombros. – E como eu disse antes, dezenas de milhares de anos de experiência e informações precisas sobre a raça vampírica, cada linha de conhecimento muito bem guardada em nossos cérebros, têm um custo. E o custo é que você se junte a nós.
- Como um bando. – Completou o outro por fim. – Nós temos certeza que há muitos vampiros vindo para o Castelo de Bran nesse momento, e vamos fazer com que todos se juntem à nós.
- Este é o preço dos nossos conhecimentos.
- É uma oferta tentadora, - eu comecei, porque já tinha pensado em todas as possibilidades enquanto eles terminavam de falar – mas ser um subordinado preso à pequenas pontadas de conhecimento vez ou outra, e ter de servir a vocês dois sempre é um preço muito alto a se pagar.
- Você não aceita, então? – Stefan mordeu o lábio inferior, ansioso. – Você pode ainda descobrir muitas coisas que nem imagina sobre vampiros, e outras criaturas que nenhum outro vampiro teve o prazer de cruzar pelo caminho.
- Eu preciso pensar. – Disse por fim, e os dois mostraram um largo sorriso. – Existe algum lugar onde eu possa ficar sozinho e pensar em tudo com calma?
- Conosco você nunca estará sozinho. – Zombou Stefan, enquanto se encaminhava pelo corredor à leste – mas existem algumas salas mais privadas, onde mantemos em cada uma os objetos pessoais de cada vampiro. Venha comigo.
Eu o acompanhei, enquanto notava que suas posições estavam mais descansadas. Eu sabia apenas de uma coisa, eu era o menos privilegiado entre os três. Já não possuía a força de um recém nascido, e não tinha a experiência de um vampiro formado. Eu estaria em maus bocados caso iniciasse uma batalha contra dois vampiros milenários, e poderia aprender com eles em um ano o que eu aprenderia em centenas de milhares. Era melhor pensar com cuidado em cada detalhe para não me precipitar.
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