► Catherine POVOk, isso vai ser um problema.
Eu coloquei o nome do tal castelo no Google. E ele fica na Romênia, a 2.543 quilômetros daqui!
Quer dizer, a capital da Romênia fica a 2.543 quilômetros daqui. Aqui é Londres, caso eu não tenha mencionado. E depois de chegar à capital, Bucareste, ainda tem mais um trecho de viagem até a tal cidade de Bran, perto de Brasov, que só pelos nomes, devem ficar na primeira esquina depois do fim do mundo.
E é pra lá que eu estou pretendendo ir.
Eu só posso estar ficando maluca.
Além disso, o lugar é um museu. No sentido literal da expressão. Eu já havia lido sobre ele, uma vez, só não estava ligando o nome à pessoa, ou ao vampiro, sei lá. É o antigo lar de Vlad Tepes, um príncipe meio doido e cruel, que, dizem, inspirou Stoker a escrever o seu "Drácula", que, aliás, é meio cansativo, mas bem interessante.
Mas deixa eu voltar ao assunto que realmente interessa. Eu não faço idéia de por que devo ir até lá, exceto que foi o que o meu misterioso criador me disse para fazer, e menos ainda do que exatamente estou procurando. Mas alguma coisa me diz que eu realmente preciso ir até lá. Ok, eu confesso. Estou esperando encontrar Gabriel em Bran.
E eu também tenho a impressão de que os meus problemas mal estão começando.
Eu não estou mais com sede. Ok, eu estou sim, mas não tanto quanto estive nos últimos dias. Tenho feito o que Gabe dizia fazer para se alimentar... assaltando os bancos de sangue dos hospitais de Londres e eventualmente... bebendo o sangue de animais.
Uuuuuugh!!!
Ruim, é verdade, mas me mantém de pé, em último caso. E longe das pessoas. Eu simplesmente NÃO VOU matar seres humanos. NÃO VOU. Ah, droga! Olha isso, seres humanos! Eles agora são de uma espécie diferente da minha. Presas. Não! Presas, não. Fiquei trancada nessa casa por dias – e noites –, para não correr esse risco, me alimentando até que não houvesse espaço dentro do meu estômago para eu desejar mais sangue. Os primeiros dias foram terríveis, a sede era simplesmente insuportável. Eu matava quatro, cinco pessoas em uma só noite, e nunca me sentia totalmente saciada. Matei uma garotinha, que não devia ter mais do que dez anos. Não conseguia me controlar, quando me dava conta, já estava escondida em algum beco, algum canto, o corpo em posição, pronta para atacar. Felizmente, Londres tem muitos becos e ruelas escuras onde eu podia me esconder e às minhas vítimas. Mas não quero mais pensar nisto. Já passou e não vai se repetir.
O quarto de Gabe é grande e bem arejado. A cama, onde eu estivera deitada, foi colocada aqui, meses atrás, apenas por minha causa, a humana da casa. Uma janela, que vai do chão até cerca de meio metro acima da minha cabeça me mostrava que começava a anoitecer. Era hora de sair.
Eu fui até a minha casa, com muito cuidado pra não ser vista. O cheiro das pessoas era quase insuportável, doce, tentador... fez minha garganta queimar de sede. Mas eu resisti.
Entrei na casa vazia, era quinta-feira, dia do pôquer na casa de John, o melhor amigo do meu pai. Provavelmente eles o haviam arrastado para lá, para distrai-lo da filha-adolescente-sem-coração-que-sumiu-de-casa-e-não-dá-notícias-há-dias. Fiquei feliz com isso, pois assim, meu pai não estava em casa, e eu não seria uma ameaça para ele. Hoje, de novo, ele havia ido à casa de Gabe, para ver se eu não estava por lá. Já perdi as contas de quantas vezes ele fez isso. Deu voltas e voltas ao redor do prédio, olhando para as janelas, subiu, tocou a campainha... eu não movi um músculo, e prendi a respiração com firmeza, enquanto pensava “é o meu pai, é o meu pai”, enquanto minha boca se enchia de veneno, que eu engolia e engolia. Depois de algum tempo, ele finalmente desistiu e foi embora.
Voltei à realidade, eu devia me apressar. Tentei não olhar para nada além do que estava procurando, mas foi impossível. Andei por todos os cômodos, toquei todos os móveis. Sabia que nunca mais voltaria. O cheiro do meu pai fez minha garganta voltar a queimar. Meu próprio pai! Apanhei algumas coisas de que ia precisar, roupas, meu cartão do banco e saí rápido. Na volta para cá, vi uma coisa que não havia percebido na ida. Cartazes estavam espalhados pela cidade inteira, com meu rosto estampado, em cores, e abaixo, “procura-se”. Lembrei dos filmes de faroeste, que costumava assistir com meu pai, quando era menor; eu agora era a vilã, mesmo que não quisesse. De volta à casa de Gabe, reuni tudo o que achava que poderia ser útil para a viagem. Livros, algumas coisas minhas, e dele, que estavam por aqui, como as lentes de contato, haviam vários pares guardados no banheiro. E dinheiro. Havia muito dinheiro aqui. E um cartão de banco, com o meu nome gravado nele. O meu novo nome, eu quero dizer. Catherine Reverbel. Era o que estava escrito no passaporte, e nos outros documentos que estavam junto com o cartão. Depois de ficar algum tempo olhando para os documentos e o cartão, absolutamente surpresa, apanhei-os também – aparentemente, tudo já estava planejado com minúcia, minha reação, e a viagem, eram esperadas –, e coloquei na mochila, onde estavam os pertences menores. Estava pronta para partir.
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